sábado, 10 de julho de 2010

Países e estereótipos

Lago Azul de Ypacaraí, Paraguai

Há alguns dias, a SporTV achou que seria uma boa idéia (pra mim, essa palavra sempre terá acento) exibir uma reportagem "engraçadinha" sobre o Paraguai. A repercussão causada mostrou que a emissora estava errada. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Acho que tudo o que podia ser dito sobre esse caso já foi dito por pessoas mais capacitadas do que eu. O fato é que esse caso ilustra um problema que sempre me incomodou, mas eu nunca entendi o porquê. Vou tentar explicar, mas não garanto que serei bem sucedido.

Quando foi decidido que a Copa do Mundo de 2010 seria realizada na África, lembro de ter ouvido ao acaso alguém perguntar "mas eles vão jogar no meio do deserto?". Não precisa ser um gênio para deduzir que essa pessoa nunca foi à África. Ela provavelmente criou em sua mente uma relação África = calor e soltou uma pérola dessas. Em outras palavras, as pessoas (de modo geral) tem mania de achar que conhecem o que não conhecem.

Aí entra o estereótipo. Nós associamos determinada imagem a um país (ou, no caso da África, a um continente) e assumimos que aquela imagem seja a única coisa que o país tem a oferecer. E, claro, essa não é uma característica exclusiva dos brasileiros. O próprio Brasil, aliás, também tem seu estereótipo. Futebol, praia, floresta, bunda... você escolhe.

Por que eu acho isso um problema? Vamos voltar um pouco ao Paraguai. Vi muita gente defender a reportagem alegando que tudo o que foi mostrado é a mais pura verdade e que "o Paraguai é mesmo uma merda". Bom, eu nunca fui ao Paraguai, mas tenho quase certeza que a maioria das pessoas que vomitaram essas atrocidades também não foram. Arriscaria a dizer também que eles não conhecem nenhum paraguaio. Então por que afirmam com tanta convicção que o país tão ruim assim?

Por causa do estereótipo. Pelo menos aqui no Brasil, o Paraguai é exclusivamente associado ao contrabando. Carrega o fardo de ser um dos países mais pobres da América do Sul (que está bem longe de ser um dos continentes mais ricos). Essa é a imagem que fica. E quando você apresenta uma matéria que reforça essas idéias - humorística ou não - pronto! É oficial. Agora sim todo mundo conhece o Paraguai e pode afirmar com certeza que a única coisa boa de lá é a Larissa Riquelme.

Eu acho uma pena, na verdade, que em época de Copa do Mundo a imprensa geral retrata todas as outras 31 seleções participantes como inimigas. E utiliza muitos desses estereótipos para reforçar ainda mais os preconceitos já existentes. Que o digam os "argentinos arrogantes", "os portugueses burros", "os holandeses maconheiros"...

É uma boa oportunidade para quebrar um pouco esses pré-conceitos e mostrar outras faces de todos esses países. Mas não. Estamos ocupados demais inventando piadinhas sobre o regime político da Coréia do Norte (e as duas Coréias também serão sempre acentuadas por mim).