segunda-feira, 12 de julho de 2010

Copa 2010 - do que me lembrarei

A África do Sul é logo ali

Toda Copa do Mundo tem seus momentos. Aqueles acontecimentos que, por algum motivo, ficam na memória de quem viu. (Eu não poderia arranjar um começo de texto mais piegas que esse, poderia?)
Mas enfim, tentarei listar aqui os cinco fatos mais marcantes dessa copa. Vou ignorar fatores extra-campo, como as onipresentes vuvuzelas e o polvo vidente. Outras ausências estranhas, eu explico nos parágrafos a seguir.

Se não fosse pelo título e todas as circunstâncias históricas que o envolvem, eu não iria me lembrar que a Espanha participou dessa copa. Eu até entendo essa característica de jogar que eles desenvolveram. De ficar passando a bola, sem pressa, como se o jogo fosse durar duas eras geológicas e eles tivessem milhões de anos para fazer um gol. Funciona (tanto que foram campeões), mas não me empolga. Sou daqueles leigos que acha que time bom é aquele faz gol (ou pelo menos tenta com certa frequência). Por isso, a Espanha não entra no ranking.

A vice-campeã Holanda é outra que não me deixará saudades. Só não passa em branco porque foi a responsável pela eliminação do Brasil e por ter estabelecido um novo recorde que nenhuma seleção desse porte gostaria de manter: é o time que mais participou de finais sem vencer nenhuma. Eu gosto bastante da Holanda, e acho que eles estão merecendo ganhar uma copa faz tempo. Mas não jogando do jeito que jogaram. E também acho que esse primeiro título não deveria vir na África do Sul. Por toda a questão histórica, apesar de os jogadores em si não terem nada a ver com isso. Por isso, a Holanda não entra no ranking.

Também não sou de torcer pelo Brasil só porque eu sou brasileiro. Se a seleção não me agrada, arranjo outro time para torcer. E foi o que aconteceu nessa copa. Não torci pelo Brasil. Já não tinha torcido em 2006. Pelo fato de a seleção não jogar um futebol assistível (A única exceção foi durante o primeiro tempo do jogo contra a Holanda) e por motivos externos (O Brasil seria hexacampeão. Provavelmente hepta na copa seguinte. É muita coisa... só tornaria as copas do mundo mais desinteressantes ainda), não torci pelo Brasil. E por isso, o Brasil não entra no ranking.

O que entra então?

5. A ELIMINAÇÃO DA ITÁLIA

Itália e Eslováquia brigam pela vaga


"Desde que perdeu a Tcheca, a Eslováquia não fode mais ninguém". Não lembro onde vi essa piada. Acho que alguém twittou. O fato é que eu achei engraçada e até certo ponto da copa ela era verdadeira. A Eslováquia estreou empatando com a limitada seleção da Nova Zelândia. Na rodada seguinte, perdeu de 2x0 do Paraguai (uma seleção que não ficou marcada por fazer muitos gols). A Itália também não estava empolgando. Mas se fazer de morta no começo das copas é uma característica bem conhecida da então compeã mundial. Ninguém se surpreenderia se a Itália acordasse do seu soninho da beleza, metesse 3 gols na Eslováquia e ainda tivesse a sorte de terminar em primeiro lugar no grupo, evitando de pegar a Holanda logo de cara.

Mas quem pareceu acordar naquele jogo foi a Eslováquia. Eles sairam na frente ainda no primeiro tempo. Mas a Itália também começou perdendo os dois primeiros jogos e depois conseguiu empatar. Metade do segundo tempo e a Eslováquia faz mais um. Agora sim a classificação italiana estava ameaçada. Conseguiram diminuir, mas logo depois a Eslováquia faz mais um. Nos acréscimos, a Itália ainda lutava. Fez mais um. 3x2. O jogo entre Paraguai e Nova Zelândia termina em 0x0. Isso significa que um gol italiano definiria o futuro das duas seleções. Se ele saísse, a Itália ia para as oitavas e a Eslováquia terminaria em último lugar no grupo. Se ele não saísse, a situação se inverteria.

Não saiu. Essa não foi a primeira vez que vi um campeão ser eliminado na primeira fase. A França em 2002 foi até mais marcante. Mas por ter sido tão inesperado (quem imaginaria que a Itália terminaria em último lugar, sem nenhuma vitória, em um grupo que tinha Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia?), e pelo jogo ter sido tão dramático, entra no ranking. E a piada poderia ser refeita: "mesmo sem a Tcheca, a Eslováquia fodeu com a Itália".


4. SELEÇÃO ALEMÃ


No meio do caminho, havia uma Espanha. Havia uma Espanha no meio do caminho...

Várias grandes seleções perderam a copa. A Hungria, em 1954. A Holanda, em 1974. O Brasil, em 1982. Não, eu não vi nenhuma delas perder a copa. Vi alguns vídeos, lances isolados. Não dá para eu julgar, baseado nisso, se elas mereciam ganhar ou não. Mas se quase todos os comentaristas esportivos que assistiram a essas copas dizem que sim, então deve ser verdade.

Também não posso dizer se a Alemanha de 2010 é tão boa quanto essas seleções. Muito provavelmente não deve chegar nem perto. Mas... das cinco copas que eu assisti, foi a melhor seleção a não ganhar um título (lembrando que eu sou o telespectador leigo que acha que time bom é aquele que faz gol). Quase todos os jogos da Alemanha nessa copa foram memoráveis e agradáveis de se assistir. 4x0 na Austrália. 4x1 na Inglaterra. 4x0 na Argentina. 3x2 no Uruguai... até mesmo a desastrosa partida contra a Espanha é digna de nota.

O lado bom disso tudo é que os jogadores alemães são jovens e boa parte deles deve jogar a copa de 2014. Mais maduros e experientes, tudo indica que serão uma grande potência daqui quatro anos. Escolhido como revelação jovem dessa copa e ganhador do prêmio Chuteira de Ouro, Thomas Müller promete (se vai cumprir, é outra história).

De qualquer forma, a Alemanha apresentou o futebol que mais gostei de ver. E ao lado de Uruguai e Gana, foi uma das minhas torcidas. (Mais sobre os outros dois times daqui a pouco).


3. OS ERROS DE ARBITRAGEM


1966: a copa que não terminou

Árbitros decidindo jogos. Foi uma das coisas mais lastimáveis da copa de 2002. E erros absurdos voltaram a acontecer nessa copa. Expulsões sem sentido, jogadores violentos sem punição adequada. Gol ilegal validado, gol legítimo anulado. Aliás, a péssima arbitragem já dava seu ar da graça antes mesmo da copa começar oficialmente. Quem não se lembra da mão do Thierry Henry no jogo de repescagem entre França e Irlanda?

Os erros grotescos abrem espaço mais uma vez para as discussões sobre o uso ou não de tecnologia nos jogos. Chip na bola, replay instantâneo... tirariam a graça do esporte? São indispensáveis em uma época como essa? Será que a Fifa vai tomar uma providência dessa vez ou vão esperar a poeira baixar e fingir que nada aconteceu? Só o tempo dirá.

Apesar disso, acho que os erros dessa vez não me incomodaram tanto quanto me incomodaram em 2002. Talvez porque os erros dessa copa tem mais cara de incompetência do que má-fé. É só uma suspeita minha, não vem ao caso agora. Vamos seguindo.


2. O FRANGAÇO DO GOLEIRO INGLÊS


Faltou pouco, Green

Não teve jeito. Assim que aconteceu aquela falha, eu já sabia que aquela imagem tomaria conta da internet.

Primeira rodada do grupo C. Jogo entre Inglaterra e Estados Unidos. Um dos mais esperados da primeira fase. A Inglaterra vinha como uma das favoritas ao título. Os Estados Unidos vinham para tentar repetir o clássico jogo entre essas duas seleções que ocorreu na copa de 1950. Naquela ocasião, o ingleses - criadores do futebol - participavam de sua primeira copa e foram surpreendidos pelos ianques. 1x0.

Dessa vez, era a Inglaterra quem saia na frente. Tudo indicava que o jogo terminaria assim, até que...



Sem dúvidas, não poderia ficar de fora.


1. URUGUAI X GANA


A melhor defesa da copa

Sabe aqueles momentos em que você tem a impressão de estar vendo a História passar bem diante dos seus olhos? Foi isso que eu senti quando acompanhei os minutos finais desse jogos.

Empate em 1x1. Último lance da prorrogação. Tudo indicava que a disputa terminaria nos pênaltis. Mas Gana queria reolver tudo ali mesmo e se tornar a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal. Confusão na área uruguaia. A bola é chutada em direção ao gol. O goleiro tira. Mais uma vez. A bola bate nas pernas do atacante Luís Suarez e volta. Gana insiste. Suarez tira de novo. Dessa vez com as mãos. Pênalti a favor de Gana e cartão vermelho para o jogador uruguaio.

Asamoah Gyan, artilheiro da seleção africana nesta copa fica responsável para bater o pênalti que consagraria o país. A Jabulani explode no travessão. Os dois times decidiriam nos pênaltis quem enfrentaria a Holanda nas semifinais. O resto da história, a gente já sabe. Uruguai vence e ganha a antipatia do torcedor africano.

Jogo histórico. Sempre que essas duas seleções se enfrentarem, esses momentos serão relembrados. Assim como la mano de diós do Maradona é sempre mencionada quando a Argentina joga contra a Inglaterra.

Balanço final:
Foi uma copa divertida. Bem melhor que as duas anteriores, mas ainda assim não chega a ser A Melhor.

1998>1994>2010>2002>2006.

Pronto. Talvez um dia eu explique melhor que, apesar de copa de 1998 ter sido a melhor de todas, é a copa de 1994 que é a minha favorita. Mas, por enquanto, chega de futebol.