*Insira aqui sua piada preferida sobre Chuck Norris*
Os Estados Unidos adoram uma guerra. Sim, esse é um daqueles estereótipos que eu condeno aqui de vez em quando. O país todo ganha a fama por causa de decisões governamentais e um forte lobby da indústria bélica local. Mas ninguém reforça mais esse preconceito do que a principal máquina de cultura do país. Segundo Hollywood, todo mundo quer bombardear os Estados Unidos. Até os invasores alienígenas parecem ter mais prazer destruindo a Casa Branca e a Estátua da Liberdade do que qualquer ponto turístico de outros países.
O que geralmente diferencia um filme do outro é quem ataca o país. A fórmula é sempre a mesma. Vilões planejam ataque. Herói descobre os planos. Ninguém acredita nele. Ataque acontece. Helicópteros explodem. Presidente faz discurso ultra-patriótico. Todos vão à luta. Melhor amigo do Herói morre. Helicópteros explodem. Herói mata Vilão. Presidente faz discurso vitorioso. Restaura-se a paz no mundo (nos Estados Unidos, na verdade).
Ou seja, a única preocupação aqui é escolher o elenco e definir de que nacionalidade são os vilões. É que todos os filmes precisam de uma história (você sabe, né? Aquelas cenas onde aparecem duas pessoas conversando e nenhum helicóptero explodindo). Bom, selecionar os atores deve ser um pouco complicado. Depende de cachês, disponibilidades de agendas etc. Mas dificilmente os vilões fogem de algum desses stocks pré-definidos:
1. A Guerra Fria ainda não acabou
Para o bem do planeta Terra, Estados Unidos e União Soviética nunca resolveram suas diferenças na trincheira (pelo menos não diretamente). O socialismo soviético acabou se dissolvendo sem que houvesse a necessidade de a Guerra Fria se transformar numa Terceira Guerra Mundial. A URSS se dividiu em 15 repúblicas (hoje, todas capitalistas - se não me engano) e os EUA mantém relações diplomáticas com todas elas. Mas isso não impede Hollywood de sonhar.
E se tivesse havido uma guerra entre os dois? E se uma dessas repúblicas, tipo, sei lá, a Rússia por exemplo, ainda não tivesse digerido a derrota e quisesse vingança? E se uma 16ª república, fictícia, claro, fosse mais radical e resolvesse bombardear Nova York? E se alguma facção socialista de algum desses países ainda quisesse retomar o poder? E se...
2. Guerrilheiros narcotraficantes da América Latina
Não importa muito de que país seja. Tudo o que está "abaixo" do Texas serve. Menos Cuba. Aí o caso é diferente. O fato é que guerrilheiros narcotraficantes que vivem em alguma floresta genérica da América Latina querem varer os USA do mapa. Por quê? Ora, porque eles são guerrilheiros narcotraficantes da América Latina. Eles não precisam de um motivo. Alguém oferece uma boa quantia em dinheiro (algum americano traidor ou, surpresa, algum soviético rancoroso) e eles apenas exercem sua natureza terrorista. E por falar em terrorista...
3. Islâmicos suicidas
Desde 11 de setembro de 2001, os soviéticos deixaram de ser o inimigo favorito de Hollywood. Essa honra agora cabe aos muçulmanos radicais, que adoram se explodir em qualquer lugar onde haja grande concentração de americanos.
Os motivos, claro, são de natureza religiosa. Pelo menos aparentemente. Não demora muito para entrar dinheiro e petróleo na jogada. Porque, convenhamos, pega mal falar que a guerra é por motivação religiosa. Pode soar ofensivo e preconceituoso e aí... podem querer boicotar o filme. E um fracasso de bilheterias é tudo o que os produtores mais temem.
4. Revivendo o passado
Provavelmente, nenhum evento gerou mais filmes do que a Segunda Guerra Mundial. Não só filmes norte-americanos. Praticamente todos os países têm pelo menos um. Alguns preferem explorar a empatia do espectador e focam mais na sensibilidade e na sutileza, expondo mais a tortura e a dor psicológica das vítimas do que a violência explicita. Esses filmes ganham prêmios. Mas se você quer grana, o melhor é colocar alguém metendo bala em alemães nazistas, italianos fascistas e japoneses kamikazes. Não precisa ser fiel à História. Isso é apenas entretenimento e não um documetário.
Outra guerra que Hollywood parece amar é a Guerra do Vietnam. Soldados correndo pelas florestas do sudeste asiático, metralhando vietnamitas ao acaso e, de vez em quando, sofrendo alguma baixa. Os Estados Unidos "perderam" essa guerra, mas quem precisa saber?
Mas se as guerras históricas não proporcionam muitas explosões, porque não trazê-las para a atualidade? Que tal explodir alguns alemães neonazistas, italianos neofascistas e japoneses sedentos de vingança por causa da bomba atômica (sério, quem pode culpá-los?)?
5. O comunismo ainda me assusta
Se os produtores decidem descartar o primeiro tipo, então é natural que eles optarem por esse aqui. Ao invés de enfrentar um fantasma, eles optam por uma "ameaça" presente: os países que ainda insistem num sistema socialista/comunista. Vilões cubanos costumam vir nesse catálogo, mas ultimamente os favoritos desse tipo estão vindo da Coréia do Norte. Dois países que não tem muito crédito com os americanos, então é fácil identificá-los como "o que há de pior".
Alguns até tentam inovar e arriscam pintar a China como potencial ameaça aos cidadãos de bem. Vejamos... casos de censura, conflitos com o Tibet, denúncias de trabalho escravo, pode ameaçar a hegemonia norte-americana num futuro próximo e, claro, o pior de tudo, se declara comunista. Quando a febre com os terroristas islâmicos passar, essa deve ser a nova tendência. A conferir.
Mas no fim, quem se importa? O que a gente quer mesmo é ver helicópteros explodindo
Porque eles sempre explodem. Já repararam?