Ok, isso vai demorar muito mais do que eu esperava.
Enfim, acho que não são exatamente os "10 piores", mas são os 10 que consegui pensar durante a semana. Não reparem se o texto não estiver fazendo muito sentido: escrevi na pressa.
Divirta-se:
10. Deus ex Machina:
"Não havia nada mais a ser feito. Ele sabia que ia morrer. Estava cercado por todos os seus inimigos, que não escondiam a vontade de encher seu peito de chumbo.
- Quais suas últimas palavras? - rosnou um dos bandidos.
- Eu... - começou o herói - estou pronto!
O que ninguém sabia é que, naquele lugar onde estavam, existia um feitiço que poderia garantir poderes mágicos a qualquer pessoa. Para isso, bastava-se dizer as palavras mágicas que, por coincidência, eram: 'Eu estou pronto'. Uma luz envolveu o herói que, no segundo seguinte, degolava seus quase-carrascos num estalar de dedos."
Basicamente falando, qualquer elemento aleatório que aparece do nada, sem explicações, e resolve ou complica uma situação. Acho que não preciso explicar por que não sou muito fã deste elemento, preciso?
Além de prejudicar a credibilidade da história, fica aquela sensação de "traição". Conforme você vai lendo, cria-se uma expectativa para saber como a história vai terminar. Essa expectativa baseia-se nas informações que a própria trama te oferece. Não é justo que a solução surja do nada, sem explicações.
No entanto, existem casos e casos. Algo semelhante ao exemplo a cima seria imperdoável (a menos que o objetivo fosse algo mais cômico), mas existem variações mais aceitáveis. Se o herói fosse salvo, por exemplo, por uma caravana errante que passava por lá naquele exato momento. Ainda não seria uma resolução "limpa", mas já poderia estar dentro do limite do aceitável.
Particularmente, eu prefiro quando deixam indicações sutis do que está por vir. Nem que sejam do tipo que você rever o trecho depois para captar.
09. Gênio por comparação
Aquele personagem que é considerado um gênio. O mestre da manipulação. Sempre um passo a frente dos demais. Não que ele tenha um intelecto avançado ou qualquer coisa do tipo. São as pessoas a sua volta que não tem discernimento básico para identificar as reais intenções do "gênio".
Esse é um traço frequente em vilões que convivem com duas vítimas. Ou vilões que são subestimados graças a sua natureza - crianças, por exemplo. Mas protagonistas com características do tipo também não são raros.
O que acaba acontecendo é que esses personagens não encontram oposição a altura. Suas ações acabam definindo o enredo e ele atrai todo o destaque para si. E acaba, quase sempre, se transformando em outro tipo de personagem que também aparecerá nesta lista...
08. Terra de Idiotas
O mesmo cenário do exemplo anterior, mas sem o "gênio manipulador" e num ambiente mais voltado para a comédia.
Alívios cômicos quase foram incluídos nesta lista. Ficaram de fora porque são personagens que podem render desde que possuam outras funções. Mas quando a trama toda é composta por personagens que só existem para tentar te fazer rir, protagonizando cenas constrangedoras e que não parecem possuir qualquer senso de rídiculo, meu amigo, não há o que salva!
Se for um humor assumidamente pastelão, sem grandes pretensões, tudo bem.
Eu sou do tipo que acha que as situações devem ser engraçadas. Não as pessoas. No entanto, a maior parte dos produtos cômicos prefere focar no segundo caso. E aí temos um bando de imbecis fazendo coisas imbecis apenas porque são imbecis. E eu acabo passando longe.
07. Vilão cego de amor
Triângulos amorosos existem... desde que a ficção foi inventada, eu acho. Duas pessoas disputando o amor de outra parece ser algo bastante rentável nesse universo. Se o pivô da disputa tem dúvidas entre qual das opções escolher, a situação só tende a piorar. Azar dos personagens envolvidos, sorte do público interessado.
Mas muitas vezes já existe um casal formado. Um casal extremamente feliz e que não tem intenções de se desfazer. Todo mundo percebe que os dois foram feitos um para o outro. Mas um terceiro elemento ainda espera uma reviravolta. Ou melhor, não espera. Decide ele próprio causar essa reviravolta. E passa a dedicar sua vida a separar o casal feliz para abocanhar o que acredita ser seu de direito. É a famosa Síndrome de Vilã da Malhação.
O "Vilão" em questão aparentemente não tem mais o que fazer da vida. Não tem família, não tem amigos e nem vida social. Mesmo quando suas armações são desmascaradas ou quando seu objeto de desejo demonstra claramente sentir repulsa de seus atos, ele não desiste.
Eu não consigo pensar em uma motivação mais desinteressante para um vilão. Até acho que personagens obcecados podem render boas histórias. Dramas psicológicos ou histórias de terror. Mas vilões cujo maior ato de maldade é romper casamentos não está com nada!
No entanto, a vértice perdedora do triângulo amoroso pode não ser o único problema nessa história...
06. Casal perfeito
Eles se apaixonaram à primeira vista. Logo no primeiro encontro descobriram que tinham muito em comum. Engataram uma relação mágica e colorida. Não brigam. Não discutem. Não se desentendem. Amor de verdade!
Mas aí acontece um mal entendido. Pode ter sido uma armação do vilão do tópico acima ou apenas frases e cenas fora de contexto que geraram uma interpretação equívocada dos fatos. Não importa. Os dois brigam. Discutem. Se desentendem. E terminam tudo!
Depois de muitas cenas melosas e várias tentativas de esquecimento, a verdade vem a tona. E tudo volta a ser como antes. Sem brigas. Sem discussões. Sem desentendimentos. Só amor!
O que tem de errado com esse casal que só entra em dissonância devido a fatores externos? E que uma fagulha mínima já põe tudo a perder? Preciso mesmo responder?
Pessoas que possuem qualquer tipo de relação brigam o tempo todo. Podem ser amigos, familiares ou amantes. Isso é mais natural que suco de praia. Na maioria das vezes, a situação se resolve com o tempo ou com uma longa conversa após os ânimos se acalmarem.
Então fodam-se esses casais utópicos que só servem para fazer com que as pessoas normais aspirem a um parceiro perfeito que nunca vai existir!
05. Morte? Que morte?
Escolha qualquer filme de terror com mortes em série. Qualquer um. Veja como a mocinha fica chocada ao descobrir que sua melhor amiga foi brutalmente assassinada por alguma entidade sobrenatural mascarada. E veja como, cinco minutos depois, ela nem sequer se lembra da existência da falecida.
Tudo bem, não dá para esperar muito aprofundamento psicológico em tramas do gênero. Afinal, tem pelo menos mais cinco jovens na fila esperando para ter a garganta cortada e os órgãos vitais arremessados na câmera em efeitos 3D. Mas, duas horas depois do crime, lá estão todos dando uma festa e discutindo se devem ou não transar aquela noite. Alguns até fazem piadas com os acontecimentos. Pelo jeito, o assassino não é o único psicopata vagando pela área.
04. ...Vinte anos depois...
Ah, sim! O famoso "Epílogo com passagem de tempo." Por que não basta dizer que tudo terminou bem para os mocinhos. Precisamos confirmar que eles viveram "felizes para sempre" para não deixarmos nenhum impressão errada!
OK, esse é um lance bastante pessoal e eu não espero que muita gente concorde comigo. Terminar uma história não significa resolver todos os problemas que ela apresentou. Pelo contrário: é até bom deixar algumas lacunas para público preencher em sua mente. A única coisa que deve ser obrigatoriamente resolvida (para mim) é o conflito principal.
O que acontece é que esses epílogos acabam aparando todas as arestas possíveis. Não tem espaço para especulações ou teorias. Eles te dizem exatamente o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu.
E o que é pior: essas passagens de tempo costumam ser de longos períodos de tempo. As pessoas mudam bastante em um ano - que dirá vinte! E eu acabo tendo grande dificuldade para aceitar que aquele personagem mencionado no epílogo é o mesmo personagem que eu acompanhei durante toda a trama. Porque eu não sei o que aconteceram nesses anos não relatados para deixá-lo do jeito que ele está agora. É como reencontrar um amigo de quem você não tem notícias há anos. (Confuso o bastante?)
03. Donzelas em perigo
Esse é um elemento que até pode dar certo. Não tem nada de errado em salvar uma pessoa que está em apuros. A gente até espera que isso aconteça.
O problema aqui é similar ao dos alívios cômicos: a personagem precisa ter um mínimo de personalidade para que eu me importe. e "estar em perígo" não é traço de personalidade.
O que acontece na maioria das vezes é que a "donzela" (que não precisa ser necessariamente uma "donzela" - qualquer personagem que precisa ser resgatado serve, mas as donzelas são mais comuns) não passa de um MacGuffin vivo. Uma personagem inteira criada apenas para direcionar as ações de um herói. Nenhuma personalidade além de "Salvem-me! Salvem-me! Estou em apuros e estou disposta a me entregar ao primeiro macho alfa que vier em meu socorro!". Nenhuma diferença entre ela e um artefato místico.
Esse elemento envolve também outra discussão mais complicada, que diz respeito à maneira como as personagens femininas são representadas em obras de ficção. Talvez um dia, se me sentir seguro, eu possa tratar deste tema. Mas, caso alguém tenha interesse, não é difícil encontrar bons textos sobre assunto pela internet.
02. Jump Scare
Voltemos aos filmes de terror:
"Uma menina acorda no meio da noite e dá pela falta do namorado.
- Brandon! - chama ela, sem obter respostas.
Desanimada, ela decide levantar e sair à procura dele. Por algum motivo, ela não acende as luzes. Ela apenas pega uma lanterna e dirige-se ao corredor.
- Alguém está aí? - tenta ela novamente, sem sucesso. Agora ela começa a ficar assustada - isso não tem graça!
Ela anda mais um pouco, quando ouve um barulho vindo do andar de cima.
- Brandon, é você? - clama esperançosa.
Sem que ninguém responda, ela não vê outra saída a não ser subir. Chega ao quarto onde supostamente haveria alguém. Não há.
Mais uma vez, ela ouve o mesmo barulho. Parece estar vindo do armário. Ela hesita, mas sabe o que tem de fazer.
Ela caminh devagar. A trilha sonora - ou falta dela - parece indicar que alguma coisa vai acontecer. Suspense. Tensão. Música. Ela abre a porta e...
- MIIIIIIIAAAAAAAAUUUUUUUUUU!"
Era só um gato. Mesmo que a menina seja atacada de verdade meio minuto depois, o estrago já está feito.
O segredo de um bom filme de terror é a atmosfera. O suspense. Precisa ser algo que te apavore, não simplesmente assuste. Algo que te dê um frio na espinha, não um ataque cardíaco. Basicamente, é uma estratégia bem barata de tentar simular uma sensação de medo. Você até fica na defensiva durante o resto do filme. Não por causa do enredo. Mas porque não quer tomar outro susto desses.
01. O autor conspira a meu favor
O "Gênio por comparação" elevado à décima potência. Da mesma forma, seus planos costumam sempre dar certo. Tudo sai conforme o esperado. A diferença é que este personagem não depende muito da burrice daqueles que o cercam. Ele tem o universo todo a seu favor. Ou melhor, o autor.
Se esse personagem participar de uma competição, ele ganha. Se entrar em uma discussão, ele ganha. Se ele precisa convencer 197 presidentes a assinarem um acordo que determina a paz mundial, ele convence. Mesmo que pareça que ele vai fracassar em algum ponto, não se preocupe, faz parte do plano.
É praticamente impossível se identificar com um personagem desses. Inevitavelmente, eu começo a torcer para ele se dar mal. O que naturalmente não acontece. É fácil perceber que existe uma relação forte entre autor e personagem.
Existe um termo bastante comum para designar "personagens perfeitos" adorados pelo autor (e talvez odiado pelo resto do público): Mary Sue. Não sei é o caso desse tipo de personagem que estou tentando explicar. Mary Sues costumam ser personagens sem falhas, geralmente criadas à imagem e semelhança do autor (ou pelo menos da maneira como ele se enxerga). No entanto, elas podem se dar mal de vez em quando.
Já os personagens aos quais me refiro até podem possuir algumas falhas de caráter, mas elas não são empecilhos para que ele se dê bem o tempo todo.
Provavelmente, os dois são amados pelos seus autores. A difrença está na forma como esse "amor" é demonstrado: na hora de descrever suas características ou na hora de relatar suas ações. Particularmente, o último caso me aborrece mais.
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Acho que vou dar um tempo com essas "análises". Para evitar que o blog fique monotemático demais. Não sei... talvez semana que vem eu publique mais um conto. Ou nem publique nada.