É óbvio que nada bom poderia resultar disso
Muitas tentativas já foram feitas. E em pelo menos 90% das vezes, fracassaram colossalmente. A história é totalmente esquartejada para caber em duas horas e meia, os personagens são mal-caracterizados (e às vezes interpretados por atores duvidosos) e quando termina, você provavelmente está com uma dessas idéias na cabeça: "O livro é bem melhor", "Abusaram dos efeitos visuais/3D", "Arruinaram a minha infância" ou "Não tem a mesma atmosfera do jogo/livro/desenho/etc". Então porque insistimos em imaginar versões cinematográficas de todo e qualquer produto de ficção que vem parar nas nossas mãos?
(Usei os verbos no plural porque imagino não ser a única pessoa a sofrer desse problema. Mas as razões que vou dar são de cunho pessoal e pode não ser as mesmas que as suas - suponhando que você também passe por isso)
Acho que o principal ponto é querer acompanhar a história de uma maneira mais convencional. Por exemplo, no caso de um livro, tem aquela cena que na sua imaginação ficou tão foda que parece até um desperdício nenhuma outra pessoa tenha acesso a ela. Então, você cria uma expectativa de que eventualmente o diretor escalado para dirigir o suposto filme irá imaginar a cena do mesmo jeito que você e que conseguirá transportá-la para a tela de modo impecável. (Naturalmente, é bem provável que essa cena seja cortada do produto final. Ou fique uma porcaria).
Especulação de elenco é o ponto seguinte a ocupar a mente, quando a idéia do filme já está mais concreta na sua cebeça. Você vai procurar no fundo do cérebro, no seu IMDb pessoal, atores, atrizes ou mesmo celebridades em geral que encaixariam na descrição física e psicológica de cada personagem. Às vezes a empolgação é tanta com esse quesito que, finalizada a tarefa, você arriscaria escalar uma versão nacional também. (Porém, dificilmente atendem o seu pedido. Os atores escalados costumam não ter nada a ver com os que você queria. Ou então, quando eles acertam, é o próprio ator que te decepciona e dá ao personagem um tom diferente do que você esperava).
Por fim, acho que tem um pouco a ver com uma suposta popularização do produto. Se fizerem um filme, mais gente conhecerá a história e se interessará depois pelo produto original. Não sei exatamente o que você ganharia com isso, mas parece ser uma boa idéia que isso ocorra. Talvez porque você possa se gabar de ter conhecido o produto antes dele se tornar popular? Não sei. (Claro, no fim das contas, o filme acaba sendo tão ruim que as pessoas transferem seu desprezo para a versão original. Ou então, elas acabam gostando daqueles elementos extras. Sabe aqueles dois personagens secundários que formam um casal no filme mas que no trabalho original não trocam uma linha de diálogo? Então...)
No fundo a gente acha que a história em questão teria potencial para derrubar esse tabu. Como eu disse, "apenas" 90% das adaptações fracassa (numa estimativa muito generosa, vá lá). O que impede que esse trabalho faça parte do seleto grupo das adaptações decentes ou, melhor ainda, das adaptações bem feitas? Alguns filmes até me surpreendem quando descubro que são baseados em tramas de outros meios.
Mas claro, assim que o filme é anunciado, eu aconselho uma autoanestesia. Esperem sempre pelo pior.