sábado, 15 de setembro de 2012

Relatos de um escritor amador

Escrever é muito mais difícil do que parece. Quando você pega o texto pronto, revisado e editado, com todas as palavras e ideias no lugar certo, tudo soa tão natural que nem parece que o autor tenha realmente se esforçado. Não sei se isso se aplica aos grandes autores, mas para reles mortais limitados e medíocres como eu, a experiência tem sido bem diferente.


Acho que já mencionei que estou tentando escrever um livro (a palavra-chave é "tentando"). Não estipulei metas concretas (tipo, escrever dez páginas por dia) nem prazos, mas tenho tentado, ao meu ritmo, escrever  todos os dias. Nem que sejam apenas anotações sobre a história e os personagens, mas todos os dias eu tento pelo menos alguns minutos ao projeto. Tenho sido relativamente bem-sucedido, apesar de já ter ficado  semanas inteiras sem nem abrir o documento de texto.

Às vezes eu travo mesmo. Tento continuar de onde parei no dia anterior e simplesmente não consigo. Dou um tempo. Saio para andar. Algo no fundo da minha mente insiste para que eu desista. "Essa história é muito ruim", "Não trás nada de novo", "É repleta de clichês e lugares-comuns", "Ninguém vai gostar." Insegurança é uma bosta!

Eventualmente, eu consigo superar o obstáculo. Às vezes a solução para o dilema brota do nada, enquanto estou trabalhando ou vagando sem rumo pela internet. Outras vezes eu preciso quase fundir o cérebro para produzir algo que me deixe satisfeito. Ou então eu simplesmente pulo aquele trecho e sigo adiante (estou escrevendo de modo linear, não sei se isso é aconselhável ou não. Mas tem dado certo).

E quais são as principais dificuldades encontradas por mim? Consegui identificar algumas e decidi listá-las aqui. Não sei se ajuda em alguma coisa, mas é uma chance de desenterrar o blog.

#1. Repetições de palavras:

Um conselho que sempre ouvi bastante é o de escrever com um dicionário ao lado. Dessa forma, se precisasse retomar algo que acabei de mencionar, poderia facilmente encontrar um sinônimo e evitar que o texto pareça um disco enroscado repetindo a mesma palavra três vezes no mesmo parágrafo. Isso nunca me ajudou. Eu tenho mania de precisar repetir palavras simples. Tipo, "porta". Que sinônimo eu poderia usar sem parecer que eu o estou usando apenas para não escrever "porta" de novo? Ou sem parecer pedante? Já perde a naturalidade aí.

Mas nada supera os verbos dicendi. Já ouvi que o ideal seria usar apenas o "disse" para identificar o personagem autor da fala, que mesmo repetida várias vezes a palavra não causa estranheza ao leitor. Para mim causa. Então eu tento variar com moderação. Pelo menos as alternativas mais comuns (falou, respondeu, comentou). Não fico 100% satisfeito com o resultado, mas no momento estou jogando esse problema para a hora da revisão. Pelo que pude pesquisar em outros livros, muitos autores evitam o uso do verbo dicendi e procuram outras maneiras de informar quem disse a frase.Tipo:

"Está muito calor!" Fulana tirou a blusa e deixou-a sobre uma cadeira.

Mas ainda assim, não é sempre que funciona. Cada caso é um caso.

#2. Atmosfera

Essa é uma das coisas que mais prezo em um trabalho de ficção. A história precisa te levar para dentro dela e, só com palavras, te apresentar um mundo inteiro. E aí eu não fico satisfeito com o que produzo. Acho que nunca é suficiente. Por mais que eu tenha a imagem completa do lugar na minha cabeça, não consigo traduzi-la em texto.

Isso acontece, em partes, porque nunca fui bom com descrições. Sempre que eu uso qualquer comparação ou metáfora, soa forçado e pouco natural. Parece que eu estou fazendo um esforço enorme para parecer genial quando, na verdade, só quero que o leitor saiba com é a casa do protagonista. Normalmente, acabo evitando as descrições, o que compromete a atmosfera.

Descrições de personagens, no entanto, parecem ser bastante desencorajadas. Pelo que tenho visto, o ideal é só mencionar características físicas se elas forem relevantes para a história. Como "escritor", prefiro assim mesmo. Eu apenas apresento o Fulano e o leitor imagina o personagem como bem entender. Mas daí, lá para o meio do livro, eu solto algo do tipo: "Fulano ficou tão vermelho quanto seus cabelos". Se eu fosse o leitor e tivesse imaginado o Fulano com cabelos pretos, fudeu. Eu não vou conseguir mudar a cor dos cabelos dele agora. Você deveria ter dito isso antes!

Esse é outo problema que espero resolver na hora da reescrita.

#3. Tempo

Nos outros dois casos eu já sabia que teria problemas antes mesmo de começar esse projeto, mas esse item foi novidade para mim.

Minha dificuldade neste sentido é que tudo parece acontecer rápido demais. Eu fiz um "cronograma" da história toda para ter uma ideia de quanto tempo ela duraria. Deu 34 dias. Me pareceu pouco, considerando  tudo o que precisa ser feito e as limitações dos protagonistas. Para não mencionar os "dias de folga" que eu joguei no meio para aumentar esse tempo.

Em partes a culpa é minha, porque tudo dá certo rápido demais. Tem muita sorte e muita coincidência envolvida. E eu não consigo imaginar como poderia ser diferente.

#4. Contradições

Ah, plot holes. É tão fácil identificá-los nos trabalhos alheios...

O que aconteceu no meu caso é que eu comecei a escrever a história tendo "X" em mente. E então fui incluindo elementos que se sustentavam em "X". Com o desenrolar da trama, percebi que "X" não fazia muito sentido e, então, substituí-o por "Y". Ao fazer isso, todos aqueles elementos sustentados em "X" caíram por terra e precisarão ser revistos. E nem vou mencionar que, agora, "Y" também não parece fazer muito sentido e estou tentado a substituí-lo por "Z"...

Fica para a revisão também.

#5. Revisão

E falando nela...

Ainda não é algo que me preocupa porque meu foco ainda está na produção, mas eu sei que vai dar trabalho. Não só porque pretendo corrigir todos esses problemas mencionado aqui, mas também porque dificilmente um texto meu sobrevive a uma segunda olhada.

Tudo (tudo mesmo) que publico aqui é sem revisão nenhuma. E sem planejamento também. Eu tenha a ideia, escrevo, publico e nunca mais leio (quero dizer, alguns eu até revisito depois de meses de sua publicação). Não tento nem mesmo corrigir os erros de ortografia e digitação.

Porque se eu releio o que escrevo e demoro muito para publicar, simplesmente desisto. Apago o texto e vou dormir. Parece não vale a pena... Não sei como vai ser quando eu terminar essa fase de produção e começar a revisar o projeto. Se eu vou ouvir as vozes na minha mente e desistir dela ou se vou vencer essa mania e concluí-lo com dignidade.


De todas as histórias que já passaram pela minha cabeça, essa não é minha favorita. Ela é apenas a que me pareceu mais fácil de se desenvolver e ótima candidata a "primeiro livro". A natureza dela me ajuda a expandir os limites da criatividade e a não me preocupar muito com pesquisas elaboradas. Se tem uma história que eu conseguiria terminar, é essa. Mas ela é apenas um aquecimento para o que pretendo escrever mais adiante. E, se eu não conseguir dar conta dela, significa que precisarei inventar outro hobby.